Para festejar o natal, deixo 25 microcontos de Marcelino Freire, e transcrevo uma fala de Antônio Abujanrra. Creio que resumem o que sinto em meio à tanta contradição. FELIZ NATAL!
"Esse comercialismo cruel, essa estética trágica da pobreza. Esse natal que querem colocar dentro da gente, não é realmente o verdadeiro natal. Papai Noel. O trenó dele não para na África trágica? Não para na América do Sul também,. Não para no Oriente Médio, Ele para no Iraque? No Iran? Ele para onde? Nas favelas brasileiras, ele para? Brasil 40 milhões de indigentes. Procure no dicionário o que quer dizer indigente, é pior do que pobreza. Papai Noel vai lá"?
Antônio Abujanrra
25 MICROCONTOS PARA LER NO NATAL
[1]
Disse ao Menino Jesus.
Passa o peru.
E ele passou.
E ele passou.
Sente, meu filhinho, sente.
E diga para o velhinho aqui
o que você quer de presente.
E diga para o velhinho aqui
o que você quer de presente.
Deu um tiro na cabeça
com o revólver que ganhou.
com o revólver que ganhou.
[5]
Esperou por Papai Noel.
Nuazinha.
Nuazinha.
Galinha, galinha.
Foi à Missa do Galo
sem calcinha.
Foi à Missa do Galo
sem calcinha.
[7]
Dia de visitar Papai Noel no asilo.
[8]
Farofa e fofoca.
Vômito e vinho.
[10]
Chorou, chorou.
E se deitou para dormir.
E se deitou para dormir.
É o peru.
[12]
Encontraram o corpo do Papai Noel.
Vermelho, vermelho.
Vermelho, vermelho.
– Vim para a festa.
Nem no Natal
puta tem sossego.
Nem no Natal
puta tem sossego.
– Chupa minhas bolas.
[15]
Ele também se chamava Jesus.
Mas não era filho de pai importante.
Mas não era filho de pai importante.
– Soca esta gravata no cu.
Gostoso era aquele peru
debaixo da mesa.
debaixo da mesa.
O marido bêbado.
O filho drogado.
Só faltou a ceia.
O filho drogado.
Só faltou a ceia.
Um abraçando o outro.
– Feliz Natal, disse ele.
Depois é que atirou.
Depois é que atirou.
– Ridículo!
Deus com aquele
saco vermelho nas costas.
Deus com aquele
saco vermelho nas costas.
Nenhum amigo secreto.
Nem declarado.
Nem declarado.
Menino no presépio.
E no cativeiro.
E no cativeiro.
Só Jesus salva-se.
Eu que pensei que todo mundo
fosse filho da puta!
fosse filho da puta!
Marcelino Freire é escritor. Autor, entre outros, do livro "Contos Negreiros" (Editora Record). Idealizou e organizou, em 2004, a antologia "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século" (Ateliê Editorial).
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