Fragmento de um conto.
"Eu sou um trator. Ouviram? Sou o novo trator de Minas". Todos acharam normal a fala do prefeito de Abóboras na festa de inauguração dos buracos da trincheira. A guerra estava chegando e talvez por isso ninguém tenha estranhado. No outro dia, no seu gabinete, o prefeito começou a cavar com as próprias mãos, os buracos que ficariam para sempre na memória da cidade. Não demorou muito e os partidos começaram a se preparar para a guerra enviando militantes para os gabinetes, oferecidos em troca de dinheiro e de silêncio. Pouco a pouco, todos escolhiam o lado mais previsível e mais conveniente da trincheira. Enquanto isso, Abóboras seguia tranquila se adaptando aos novos e fantásticos decretos do prefeito. Um dia, ele decidiu proibir que o enxergassem como humano. Irredutível na ideia de ser um trator, determinou que todos deveriam olhar para ele e o ver, coisa, objeto amarelo, pesado.
Abóboras era uma cidade de famílias e coronéis, quase esquecida no meio da região central de um grande estado. A pesar de produzir muitas riquezas, entre elas, fumaça e lendárias histórias sobre a origem da cidade, também produzia muita pobreza. E a pobreza cultural afetava como uma praga todos os burocratas da cidade. Tentavam resolver o problema Incompreensível investindo anualmente uma considerável quantia de dinheiro público para implementar arenas, onde assistiam animais sendo torturados e comemoravam as aparências. Os eventos decadentes ajudavam ainda mais a proliferar a praga. Contaminavam grande parte da população e eram tidos como um marco da gestão do governo pelos próprios governistas. Não sendo suficiente, foi criado um departamento com burocratas experientes, só para tratar dos assuntos culturais e cujo o objetivo principal, era paralisar a imaginação e coibir a ação de poetas e artistas tidos como uma ameaça constante para os bons costumes da sociedade Abóbrense...
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