Pular para o conteúdo principal

"O Artista NÃO Trabalha"

Doido Minas / DIVULGAÇÃO


Essa montagem foi feita por um governista de Contagem (ou Coxinha), que se apresenta nas redes sócias como Doido Minas (nome real, Hernane de Paula). É uma resposta À luta que estabeleço junto ao movimento cultural da cidade. Ela expressa bem o sentimento dos gestores atuais: ARTISTA NÃO TRABALHA. O movimento cultural de Contagem está passando por um momento de profundo questionamento sobre a gestão da Fundação de Cultura, onde não houve concurso público, todos os cargos derivam de nomeação ou foram realocados de outros setores da prefeitura. A lista de desgaste com a atual gestão que culminou no For Renata Lima pode ser conferida neste link: http://fpccontagem.wordpress.com/2014/04/18/fora-renata-lima/.

Outra imagem criminalizando o artista de rua.
Texto publicado junto da imagem: DESCRIÇÃO DA IMAGEM "Jessé Duarte Baderna o senhor das praças... Jessé, o banco da praça é muito diferente do Banco que é o dinheiro público, dinheiro do povo! Faça um concurso público e reivindique o que acha que está errado, agora dar uma de Cigano lendo as mãos do povo na praça, puxa um banco e deita! - MINHA HOMENAGEM AO ARTISTA DE RUA JESSÉ DUARTE BADERNA, QUE ADORA UMA SETA...COMO NÃO TENHO O PODER DE PEDIR O JORNAL O TEMPO CONTAGEM PARA LHE DAR TODA SEMANA EU FIZ PARA ELE ...TOMARA QUE ELE GOSTE!"


Nunca gostei de falar sobre o que faço pela cidade, mas devido a está ofensiva colocarei abaixo minhas ocupações e os ganhos que tenho com elas. Te convido a ler esse texto até o final pois acredito refletir a situação do artista no Brasil.

TRABALHO com arte há quase 15 anos. Iniciei ainda na Vila da Paz, numa escola incentivado a fazer teatro por um professor de história. Cresci e me eduquei vendo os políticos tratando o povo com migalhas, politicas assistencialistas e nunca resolvendo de fato os problemas sociais. Sempre fazendo a manutenção da pobreza para garantir os votos com as mesmas promessas no ano eleitoral seguinte. Com muita luta fundei a Cia. crônica de Teatro www.ciacronica.blogspot.com onde impulsionamos a criação do Fórum popular de Cultura de Contagem um movimento social e cultural que se reúne nas ruas, realiza atividades de formação politica e cultural pela cidade. O movimento não tem nenhum atrelamento partidário, todos seus ativistas buscam incansavelmente formas de mudar o jeito de fazer politica e de garantir melhorias para cultura que como vimos acima, é extremamente desvalorizada a ponto de tratarem os artistas como NÃO TRABALHADORES. Neste sentido a postagem acima serve bem para refletir o que pensam de quem faz arte neste país.

Atualmente as pessoas vem perguntando se eu não durmo por tanta coisa que faço, existe em mim uma vontade tão grande de levar informação através da arte que tenho realmente dedicado minha vida a isso, me jogando de corpo e alma em cada trabalho novo, mesmo sem retorno financeiro. E essa entrega absoluta ao outro talvez tenha me levada a dar à cara a tapa para receber as criticas que fazem ao movimento em curso na cidade. Tenho orgulho disso por não estar sozinho e ter verdadeiros guerreiros do meu lado.



TRABALHOS OU NÃO TRABALHOS

- Sou diretor de teatro da Cia. Crônica, onde ajudo na formação de um elenco de 12 artistas que foram descobertos em oficinas oferecidas gratuitamente em praça pública. Como resultados de trabalhos da Cia. crônica, escrevo e contribuo com vários grupos e até escolas de arte de Universidade Federal que buscam aprofundamento sobre a pesquisa em teatro épico e sobre a obra de Bertot Brecht, que me dedico mais a pesquisar aliando à cultura popular Brasileira: SALÁRIO R$ 00,00. Atualmente o grupo não conta com nenhum apoio, os poucos recursos vem de chapéus em apresentação de teatro de rua e nos ônibus, também do bolso de cada integrante que trabalha em outras atividades além de se dedicarem a um teatro informativo e critico.

- Sou co-fundador do Apoema Sarau Livre que é realizado periodicamente na cidade de contagem e está se tronando um dos principais espaços de referencia para a livre expressão do artista e sociedade em geral que procura espaço para se expressar e trocar experiência com outros. No Apoema faço produção, divulgação, carrego caixas, limpo chão da praça, apresento sarau junto de uma equipe. SALÁRIO: R$ 00,00

- Sou um dos criadores do Guia Cultural de Contagem www.guiaculturaldecontagem.com.br um site desenvolvido para ajudar na dificuldade de informação em nossa cidade. Além de ver o que acontece em todos os campos culturais, as pessoas podem divulgar eventos, atividades e espaços culturais gratuitamente no site, bastando preencher um formulário nele próprio sem nenhuma burocracia. Atualmente administro a pagina junto à mais duas pessoas, escrevo textos, faço contatos, tiro dúvidas, respondo e-mails. Pelo menos três horas do meu dia é destinada a essa atividade. SALÁRIO: R$ 00,00

- Ofereço gratuitamente oficina de percussão e ritmos afros, todos os domingos das 15h às 18h na Praça das Jabuticabas como atividade de continuidade do Bloco Maria Baderna. Além de ensinar ritmos, também ensino a construir instrumentos com matérias reciclados. SALÁRIO R$ 00,00

- Sou ativista cultural do fórum popular de cultura onde atuo incansavelmente na luta por melhorias culturais e sociais em nossa cidade. Junto de uma equipe organizamos as atividades de mobilização para construção do F5 - Festival da Cultura Independente de Contagem, que terá sua terceira edição este ano, levando formação através da arte e da cultura para toda cidade com uma programação que vai de 10 a 15 dias do mês de julho com atividades gratuitas. Leio leis, estudo processos de criação e consolidação de politicas culturais no Brasil e no Mundo e sou incansavelmente ignorado pelo poder público local. Me dedico à reuniões as vezes duas ou três dias por semana, além disso, o movimento gera tarefas que usam pelo menos três ou quatro horas do meu dia: escrever textos,  fazer pesquisas e estudos, responder "ignorantes" na internet etc: SALÁRIO R$ 00,00

- Dou aulas com o tema Teatro e Sociedade em projetos do Estado, para jovens em situação de risco. Nesta atividade gasto pelo menos 36 horas semanais, fora o tempo de preparação das atividades que levam hora por dia mais ou menos: SALÁRIO em média R$ 8,40 por hora.

No restante do meu tempo tento dormir sem paz, arrumo casa, lava roupa, cozinho visito e contribuo com minha família que vive na periferia e enfrentando problemas de acesso à saúde, educação, moradia, alimentação, saneamento básico, violência e criminalização e falta de dignidade humana.

Ainda sobra mais um tempinho que seria para descansar, amar, pensar em mim mesmo, mas ai vem uns contra tempos que grito e escrevo, a forma mais violenta de minhas ações: escrevo como se estivesse nu diante do leitor, me revelando sem medo. O artista no Brasil é isso, anda na contramão, faz o que gestores que ganham mais de 500 reais por dia não fazem (como é caso de Renata Lima gestora da fundação de cultura) e ainda é tratado como um atoa. A luta continua! Para finalizar, deixo letra de uma música que me resume bem o que estou sentindo. Agradeço por a você que leu até fim. Compartilhe essa imagem em apoio ao artista Brasileiro constantemente desvalorizado.

MISTÉRIO DO PLANETA

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros eu deixo e recebo um tanto. E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas. Passado, presente, participo sendo o mistério do planeta. O tríplice mistério do "stop" que eu passo por e sendo ele, no que fica em cada um,no que sigo o meu caminho e no ar que fez e assistiu. Abra um parênteses, não esqueça que independente disso eu não passo de um malandro,, de um moleque do Brasil que peço e dou esmolas. Mas ando e penso sempre com mais de um, por isso ninguém vê minha sacola.

Comentários

  1. O seu dia-a-dia já bate em alguns currículos de vida inteira que temos em Contagem.

    ResponderExcluir
  2. Não gaste sua energia com estas pessoas Jessé! Você é mais que isto... Muito te admiram! Avante na luta que é grande!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, a resposta foi evidenciar para que ele ver que nem todos em Contagem se calam pela politica do silèncio na cidade.

      Excluir
  3. tô aqui mandando resistência virtual e mental pra vc, Jesse. sei que nos falamos pouco e só devo ter comparecido em uma atividade do Baderna, mas pelo que vejo aqui em Neves sei que a luta aí também deve estar sendo dificílima. as críticas não abalarão o sucesso do futuro melhor que vc tá ajudando a construir. força. :)

    ResponderExcluir
  4. Obrigado Brenda... aqui a luta ta dentro dos limites do coronelismo, mas as cercas estão sendo ultrapassadas. Chega de silêncio nessa cidade!

    ResponderExcluir
  5. Pessoalmente, não conheço Jessé Duarte. Mas reconheço e valorizo sua atuação e liderança no movimento cultural de Contagem. Admiro iniciativas como o F5, o Apoema, o Forum, o Maria Baderna e outras participações da "moçada pensante" que mostram a força da cultura de nossa gente. Entretanto, ja passei da fase de acreditar cegamente em líderes e profetas. Esses também erram e se equivocam, por exemplo, ao tratarem, desrespeitosamente, a gestão cultural oficial, *que é feita por pessoas*, como se tivessem apenas um lado ruim. Todos temos qualidades e defeitos, inclusive Jessé. Nao acho legal a crítica que ele faz à Renata Lima. Vejo que ele desconhece sua origem social e sua atuação positiva frente à Fundac. Nos meus 22 anos de atuação na cultura e administraçao pública de Contagem, já vi e vivenciei muita coisa. Nos últimos anos, percebo uma nítida evoluçao na gestão cultural e na politica cultural da Cidade, bem como um amadurecimento da comunidade cultural local. Sobre a gestão oficial, reconheço a efetivação da Fundac, dos editais públicos e especialmente do FMIC de Contagem, como avanços muito expressivos, e Renata teve atuação importante e corajosa nesse contexto. Assim como eu, modéstia às favas, e toda equipe anônima ou não da Fundac, que Jessé desconhece ou finge desconhecer pela conveniência de sua posição de opositor. Assim como você, Jessé, também TRABALHAMOS, somos bons e somos ruins... somos gente. Ah, se você quiser saber um pouco mais sobre nós, pesquise a história do projeto Tudoaver, do Revelando Contagem, da Casa da Cultura, do Centro Cultural, dos Arturos, dos Ciriacos, do Por dentro da história, do Parque Gentil Diniz, da construção, difícil, dos mecanismos de gestao cultural de Contagem... Obrigado. Como disse, Jessé, admiro sua atuação na cultura, F5, FPC, Apoema, Baderna etc. Assim como admiro Honoratos, Graciere, Severinos, Camila, Débora, Randolpho, Gilson, Jonas, Chedinho, Soares, Sara com ou sem nome e outros tantos artistas fe trabalhadores da cultura. Sou Fernando Perdigão, artista plástico, produtor e gestor cultural, integrante da equipe da Fundac. Moro em Contagem, no Jardim Riacho, casado com uma contagense do Bastral", tenho dois filhos nascidos e sendo criados em Contagem.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Jessé Duarte lança, Bichinho. Nova publicação artesanal

Cordel histórico sobre o único inconfidente negro a ter participado da conjuração mineira. E xemplares adquiridos antes do dia 09 de dezembro serão enviados após a noite de lançamento com dedicatória.  clique aqui para comprar É com grande prazer que anuncio mais uma publicação de minha autoria e confecção. Dando sequência a produção artesanal, no dia 09 de dezembro, realizarei o lançamento da obra, Bichinho, inspirada pela vivência e estudos sobre as histórias de uma comunidade no interior de Minas Gerais. Bichinho é um cordel com narrativa histórica sobre o único inconfidente negro a ter participado da conjuração mineira. A obra fala da trajetória de Vitoriano Veloso e da sua relação com o vilarejo conhecido como “Bichinho”. Sendo filho de escrava, alfaiate e mensageiro da inconfidência, por confrontar a colonização, ele acaba preso e recebe a pena adicional de desterro após ser açoitado em volta da forca de Tiradentes. Uma história pouco contada e quase perdida em me

Colorido só por fora: contos periféricos

Lançado em 17 de julho de 2015, na periferia de Contagem (MG). "Colorido só por fora: contos periféricos" reúne doze contos que narram o cotidiano da periferia mineira. Com uma proposta de obra interativa, a capa do livro pode ser colorida pelo leitor. Cada capa pode ser única, diferente e compartilhada no blog ou no facebook do autor. AUTOR: Jessé Duarte REVISÃO: Fabiola Munhoz ILUSTRAÇÃO: Rodrigo Marques PROJETO GRÁFICO: Gilmar Campos ORIENTAÇÃO: Filipe Fernandes EDITOR: Marcelo Dias Costa CLIQUE AQUI PARA COMPRAR ******* APRESENTAÇÃO Por Daniela Graciere Atriz, artista visual e pesquisadora cultural de Contagem (MG).  Um sentimento paradoxal me vem ao ler “Colorido-só-por- fora”. A beleza das palavras sobre algo triste da periferia, que por muitas vezes, não passa de ser a simples realidade encontrada sob uma ótica de um ator marginal. Alguns podem achar fatalista, no entanto, a fatalidade está escancarada na realidade que é pintada por

À Cidade de Contagem - Poesia

Cidade de Contagem? Quem conta essa cidade? Será mesmo uma cidade? O que se conta em contagem? O tempo do operário na produção o dinheiro desviado que não chegou na população? O que contam seus poetas cidade poluída? São loucos? Iguais trabalhadores na forja das dores na trova dos favores? Contam, que a cidade de faz de conta(gem) se perde dela mesma nas mãos de famílias e coronéis do trafico de influencias. Contam, que já não gritam nos piquetes. Silenciam a custo dos recursos do (sus)to da ameaça. Traficoronelismo das aparências mortais morais mentais. Contam, as horas nas filas dos hospitais os moradores desesperados. Desamparados desesperançados desacreditados. Que o politico disse que faria e não fez. Deixou pro próximo e o pai passou a vez. Herança maldita dos senhores do alho, do asfalto e das novas contagens que surgem da fumaça industrial. Embaçam a escravidão infantil. Oferecem abobrinhas para sanar a fome e educam com chaminés. Tir