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Mostrando postagens de junho, 2015

Marcelo Dias Costa lançando mais um livro

"Inutrealidade - Teatro aos que tem fome", chega a sua segunda edição. E nós, que temos fome de tanta coisa, celebramos mais essa vitória do nosso grande camarada, Marcelo Dias Costa​. Na primeira edição, de dez meses atrás, foram quatro mil exemplares. Fiquei aqui em Contagem, encarregado de articular os preparativos para o lançamento, enquanto Marcelo se exilava, pois estava sendo perseguido politicamente e ameaçado em nossa cidade. O dia do lançamento foi emociante e marcante para todas e todos presentes. Menos Marcelo. Ele estava longe, muito longe, e ao mesmo tempo presente, representado na nossa luta e no grito que demos contra o silêncio de perseguição. Eis que me chega a noticia da segunda edição, Marcelo rompeu. Com expectativas fetichistas do mercado editorial e com o medo que poderia paralisar sua criação. Em dez meses, passou por várias cidades de Minas Gerais e por várias cidades do Brasil. De mão em mão, de conversa em conversa, do contato direito entre o autor

Ceninha Épica em Solidariedade à Ocupação Izidora

Em solidariedade à Ocupação Izidora. (sendo reprimida neste momento na Linha Verde).  - Calma, camarada. A gente agora tem o governo do Estado. - Sei! e Daí? - Tem que ter calma. - Mais calma? É sempre a gente que deve fazer concessões? - Abaixa, abaixa, abaixa. - Porra! Cê não disse que a gente tinha o governo? - Sim. Mas o governo ainda não sabe. - Eu acho que você é que não sabe, ainda. - Trouxe vinagre, mascara? - Eu nem sabia que o governo ia atacar a gente, mano. Nem o outro, que vocês falaram que era pior, não teve coragem. - Segura a onda ai. A gente vê mais tarde, no gabinete. - Espera ai. Você fica. - Não posso, vou tentar fazer uns contatos. - Vai dizer que você tem que lutar por dentro, né. - Vocês também, são radicais de mais. - Radicais? - Corre, corre, corre. - Radicais?! - Sai, sai, sai. - Radicais? Nós somos radicais? Covardeeeees (gritando aos policiais) - Calma, camarada. A gente agora tem o governo do Estado.

Lançamento do livro "Colorido só por fora - contos periféricos"

LANÇAMENTO, 17 DE JULHO EM CONTAGEM (MG). Meu primeiro livro, "Colorido só por fora - contos periféricos", reúne doze contos que narram o cotidiano da periferia mineira. Com a proposta de obra interativa, a capa do livro pode ser colorida pelo leitor. Cada capa pode ser diferente e compartilhada no meu blog e na minha pagina do face. O lançamento do livro será numa edição especial do Apoema Sarau Livre, integrando a programação da quarta edição do F5 – Festival de Cultura Independente de Contagem. Dia 17 de julho de 2015, na Vila da Paz. www.facebook.com/artistajesseduarte www.jesseduarte.blogspot.com

PIPOQUEIRO

Fragmento de conto.        - Nu! Se cê vesse ficava besta. O menino ficava ai na rua todo dia. Sem rumo nem bêra. Tem gente que dava comida, dava roupa de fri, dava conselho. Mas era teimoso. Sabe esses menino espezinhado? Então. Acaba ficando desse jeito mesmo. Foi que nesse trem de ficar pegando traseirinha no ons, se deu mal. Coitadim, sô! Dá até dó di lembrá. Antes ele tinha até sussegado o facho, mas não guentô ficá quéto! Eu avisei, mondegente avisô., e quem disse que adiantô? No dia do acontecido o ons varô na esquina e o danado correu pra pegar traseirinha. O motorista sulerô. Nem sei se viu. O coitadim ficou preso na roda. Aí é que a coisa estranha aconteceu: Tava cheidegente em voldocorpim. Num sei se purisso, mas era dia de jogo do galo. Foi vindo um balão preto do céu e quando ficô na altura da cabeça nossa, veio de rumo. Todo mundo arredô na hora. Cruz-credo! O balão passô e parô bem em cima da barriga do menino.

OS FARÓIS ENGANAM

- Vamos que dá tempo. Mais tarde na delegacia: - É como eu disse, doutor. Eu até que tentei frear. Mas eles se jogaram na frente do carro!

Interpretando uma poesia para Marcelo

Interpretando um poema "Inquisição das Palavras" do livro "Manifesto Escarnio Poético" de Marcelo Dias Costa no projeto "Poetas de Segunda", idealizado por artistas independentes na cidade de Contagem (MG). Curtam ai, comentem, compartilhem! CLICA AQUI PARA ASSISTIR O VÍDEO  NO FACE Ou veja abaixo, no youtube

Diamante

Fragmento de conto        Diamante era uma criança como todas as outras: cresceu sendo educado para um mundo de aparências. A primeira vez que se destacou, foi ainda na escola, colaram na sua testa uma estrelinha recompensando o “bom comportamento”, “Você brilhou!” Lhe disseram. Diamante passou a vida tentando ser o que desejava ter e todas vezes que fugia ao senso comum ouvia coisas do tipo: “Esse menino até que é muito inteligente, mas precisa falar menos", ou até metáforas "Muito bruto, mas é bom. Precisa ser lapidado.” A vida no entanto, não lhe foi tão generosa no polimento. Foi abandonado pelo pai, perdeu a mãe para o álcool e sofreu seu primeiro assédio físico tomando uma geral da policia enquanto jogava tapão com figurinhas na rua. "Cala boca, porra!" E o tapão do policial veio na cara porque estavam brincando valendo dinheiro. Foi nessa época, de adolescência perdida, que teve a oportunidade de se destacar num lugar onde não teria julgamentos morais e

Vestido de Luto

Fragmento conto ANA        Manhã de um domingo qualquer. As pessoas caminham pelas ruas voltando da igreja e levando para casa o frango que reservaram na venda que ainda comercializa as aves abatidas. Num barracão pendurado por uma corda na margem de um córrego mau cheiroso, Ana abre os olhos. 17 anos, estudos interrompidos, mãe, desempregada, bolsa família atrasada, expulsa de casa pelo pai alcoólatra e dependente do companheiro que vive do trafico. Ana esfrega os olhos com as mãos que parecem lixas e senta-se na beirada da cama como se sentasse na beirada de um abismo. Pensa em desistir de saltar fora ao dia e em ficar deitada. Abatida. Mas não pode, não tem esse privilégio e ainda se culpa ao lembrar que essa realidade é também compartilhada por centenas de pessoas desse lugar que sobrevive sorrindo.        Como de costume nos domingos, Ana com muito custo sai pelas ruas que começam largas e logo se estreitam como se fossem espremer quem caminha por elas a qualquer momento.

Escrotório

Eu estava escrevendo um texto e o dedo que deveria pressionar a tecla "i" do teclado, pressionou a tecla "o". Relendo, percebi que ao invés de escrever "escritório" eu havia escrito "escrotório". Procurei o significado no dicionário e não encontrei. Então pensei: "melhor guardar essa palavra, ela pode servir em um dos meus contos fanáticos inspirados pela realidade de Contagem." tratei de dar um significado para a palavra escrotório: ESCROTÓRIO, s.m. Local onde burocratas escrotos exercem atividades profissionais parasitárias.

Abóboras

Fragmento de um conto.        "Eu sou um trator. Ouviram? Sou o novo trator de Minas". Todos acharam normal a fala do prefeito de Abóboras na festa de inauguração dos buracos da trincheira. A guerra estava chegando e talvez por isso ninguém tenha estranhado. No outro dia, no seu gabinete, o prefeito começou a cavar com as próprias mãos, os buracos que ficariam para sempre na memória da cidade. Não demorou muito e os partidos começaram a se preparar para a guerra enviando militantes para os gabinetes, oferecidos em troca de dinheiro e de silêncio. Pouco a pouco, todos escolhiam o lado mais previsível e mais conveniente da trincheira. Enquanto isso, Abóboras seguia tranquila se adaptando aos novos e fantásticos decretos do prefeito. Um dia, ele decidiu proibir que o enxergassem como humano. Irredutível na ideia de ser um trator, determinou que todos deveriam olhar para ele e o ver, coisa, objeto amarelo, pesado.        Abóboras era uma cidade de famílias e coronéis, qua