A Casa do Movimento Popular é um espaço da cidade de Contagem situado na Av. General David Sarnof, 117, quase esquina com a Avenida João Cesar de Oliveira - Cidade Industrial.
O local foi criado na década de 80 e construído com ajuda de instituições internacionais que se solidarizavam com a luta e o avanço dos movimentos populares e políticos, frutos das grandes greves que ocorreram na cidade. A casa é uma associação, pertence a população e conforme seu estatuto, deve orientar seus trabalhos com os princípios de: estimular e respeitar a autonomia das organizações populares e dos indivíduos; desenvolver uma prática democrática, internamente e na relação como os diferentes movimentos; defender a livre manifestação de idéias, a livre organização e os interesses populares; oferecendo estrutura e inclusive formação, em conformidade com os interesses da classe trabalhadora. A administração do espaço deve ser eleita a cada dois anos com a participação de todos associados, qualquer cidadão de Contagem e região pode votar, se associar e participar da casa.
Pelo menos nos últimos 15 anos, tempo que eu acompanho e conheço esse espaço a coisa não tem sido bem assim, o local sempre esteve fechado e sempre foi difícil localizar os responsáveis para conversar. O que sempre leva a população a pensar que o local é privado ou da prefeitura. Depois do surgimento do FPC - Fórum Popular de Cultura, um movimento popular que discute direito a cultura e a cidade, foram feitas algumas tentativas mais conscientes de acesso ao espaço. Aconteceram assim, reuniões, seminários do movimento no local.
Em 2011 a Cia. Crônica de Teatro, uma das fundadoras do FPC consegue avançar nesse dialogo e passa a realizar seus ensaios e atividades na casa. Ao longo deste ano aconteceram oficinas, cursos de produção cultural em parceria com o Laboratório de Diversidade Cultural, apresentações e projetos teatrais, da companhia e de grupos convidados como ZAP 18 e Grupo Trama. Como o intuito era avançar na abertura democrática do espaço para o movimento popular e para a cidade, e não apenas a um grupo fizemos então uma cobrança de abertura do processo eleitoral da casa e de acesso ao estatuto. A resposta foi a imediata expulsão de todos do local, inclusive com ameaças. Neste mesmo momento a diretoria do espaço fecha uma parceria com uma ong para realizar oficinas de reciclagem de computadores e recebe uma verba inclusive para reformar o local.
Ao longo do ano de 2012 e 2013 o que fizemos foi realizar atividades nas ruas, não só reuniões do movimento mas ensaios do grupo de teatro. O FPC ganha mais folego e passa ser um importante movimento de expressão politica e de luta por direitos na cidade, ampliando sua pauta cultural para agregar mais movimentos nas mobilizações, não por acaso, numa conjuntura marcada por um processo politico conturbado. O PCdoB é eleito para a prefeitura fazendo alianças com partidos e setores conservadores e disputando com o PT. É importante observar esse fato por que a direção da casa historicamente passa de corrente para corrente do PT e é exatamente no momento que o PT perde espaço na cidade que a casa se abre novamente e o dialogo com o movimento cultural independente é retomado.
O FPC passa então a articular formas de agregar mais movimentos e revitalizar o espaço que estava completamente abandonado, mesmo depois da parceria e da reforma que estava prevista no ultimo projeto realizado na casa. Mais de 300 computadores, camisas com logo marcas do apoiador Banco do Brasil e componentes eletrônicos novos estavam abandonados no espaço. O Auditório estava com várias cadeiras quebradas, faltavam lampadas e os documentos históricos do local estavam jogados.
A atitude do movimento foi realizar reuniões mensais para deliberar sobre o espaço. Durante o ano de 2014 foram feitos mutirões para reformar minimamente o local, a casa volitava a receber os movimentos, os sindicatos se reaproximaram e várias atividades foram realizadas: Festivais, espetáculos, shows, oficinas, reuniões, ensaios etc - a casa novamente era uma referencia para a cultura independente e para os movimentos populares.
O ano de 2015 começaria repleto de novidades e com uma perspectiva de avançar na democratização e no registro da memória da casa e sua importância histórica para a cidade. Já estava agendado a realização da Mostra de Cinema Direitos Humanos no local, onde seria a primeira vez que Contagem receberia exibições desta mostra que acontece em todo o Brasil. Estava agendado continuidade do processo de pesquisa "Memória Morta" da Cia. Crônica que realizaria uma montagem fruto de oficinas e cursos ocupando espaços do local, abertura da biblioteca que recebeu doações de livros durante todo o ano passado e diversas atividades dos movimentos populares.
No final do ano passado a diretoria da casa que nunca esteve presente durante todo o ano, relatou sobre uma parceria com a OAB que traria uma rede de TV para a cidade. Nesta parceria a casa passaria a ser novamente de um único projeto. Depois de algumas conversas, ficou um entendimento de que a TV RIP "Rede de Informações Populares" tinha um linque muito interessante com o que acontecia ali, e seria possível recebe-la continuado os trabalhos desenvolvidos na casa que é enorme e poderia ter uma das salas destinadas para as atividades da TV e não todo o espaço. Nosso objetivo nunca foi deter a casa para um grupo mas a de dar sentido a sua função social para a cidade, agregando mais e mais movimentos e projetos. Desta forma uma reunião foi marcada em comum acordo com a direção da casa e integrantes da TV para o dia 26 de janeiro, onde como de costume, o projeto seria apresentado aos movimentos populares e debatido. A reunião foi realizada na porta da casa em baixo de chuva, pois ninguém da direção ou da TV apareceu, as chaves estavam trocadas e havia uma faixa informando que as atividades da casa estavam suspensas o local estava sujo e o jardim ainda em construção estava destruído. Depois disso não houve resposta da direção e mais uma vez fomos pegos de surpresa ao ver fotos publicadas no facebook com relatos de que o local esta abandonado servindo à usuários de droga e a criminalidade. Ao mesmo tempo também foram publicadas imagens mostrando a faixada agora coberta por tapumes de lata.
E importante observar que isso acontece exatamente num momento que o PT volta a ter espaços de poder, no governo do estado e com o convite para compor o governo do PC d B em Contagem, assumindo secretárias que facilmente justificariam mais uma parceria com a casa, que agora dizem está abandonada. Fato esse, gerado pela própria diretoria, pela falta de dialogo e pelo interesse de continuar a situação de aparelhamento do local. Acontece também no ano em que a Casa do Movimento Popular deve realizar suas eleições para compor uma nova diretoria.
Dentro da casa ainda se encontram figurinos, cenários, documentos, aparelhos eletrônicos e dezenas de livros pertencentes ao grupo de teatro e ao movimento cultural independente. tudo está trancado sobre posse deles que não dão nenhum retorno da situação e não dialogam.
Por fim, os últimos acontecimento representam uma violência e um desrespeito completo aos movimentos populares e aos princípios da casa e não podem mais serem aceitos na história deste espaço que deveria ser um exemplo de exercício pleno de democracia e participação popular.
LEIA AQUI O ESTATUTO DA CASA DO MOVIMENTO POPULAR:
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