Jornal "O Tempo" dessa sexta, 15 de julho. Traz um texto meu sobre cultura e mercantilização dos serviços e espaços públicos. Leia abaixo.
A POLÍTICA PÚBLICA DA CULTURA MERCANTILIZADA
A atual política pública de cultura serve para converter o artista em um refém da burocracia. Em um bom redator de projetos com apresentações, objetivos, justificativas e metas falsas. Um técnico dentro da técnica. Uma abstração do trabalho e do sentido de cultura como direito e como bem simbólico de um povo. Em uma mercadoria vazia, sem lugar e repleta de frustrações por não conseguir atingir o grande público.
As políticas públicas se tornaram a expressão máxima de um jogo conciliatório entre interesses reformistas fracassados.
A cultura, como expressão simbólica da vida e da história de um povo, só pode avançar e ser livre, se estiver aliada a um projeto anticapitalista: cultura não é mercadoria (ou pelo menos, não deveria ser). O primeiro passo para avançar, é a luta para que ela comece a ser tratada como um direito e para que o artista seja respeitado como um trabalhador. Hoje infelizmente, somos no mínimo, um monte de desempregados em potencial. Reduzidos a projetos para justificarmos as migalhas e a política trágica de conscientização, mantida pelos governos, com o interesse de paralisar as lutas, garantir o fetiche e o privilégio de poucos.
Com essa perspectiva podemos pensar sobre a atual situação de Contagem, como uma confirmação dos sintomas da mercantilização cultural.
Se por um lado passou a existir alguns editais, por outro, esses editais passaram rapidamente a ser utilizados para fazer a manutenção de uma velha prática local: a política do evento. Onde o poder público busca manter uma aparente quantidade de projetos para supor uma efervescência, disfarçando a miséria dos investimentos culturais de longo prazo que visem à qualidade da produção artística.
A mercantilização avança conforme prevalece o abandono dos espaços públicos que ficam entregues ao esquecimento, ao risco da privatização ou até mesmo, a possibilidade de virarem igrejas.
Como explicar que, na cidade que possui uma das maiores economias nacional, não existem aparelhos públicos culturais abertos em dias e horários acessíveis população? Claro, as explicações são muitas e se naturalizaram impossibilitando a percepção dos absurdos: o Cine Teatro Tony Vieira continua cheio de explicações e fechado a mais de sete anos, o Centro Cultural do Petrolândia no esquecimento, a Casa de Cacos em ruínas, as periferias sem espaços culturais, sem bibliotecas e sem condição de acessibilidade para fluir a cidade. Casarões pedem atenção. Estão sob o risco de desabamento, quando poderiam se tornar espaços de arte modificando a dinâmica da cidade, preservando nossa memória, gerando oportunidade de trabalho para artistas e de acesso para a população.
No fim, tudo esse descaso latente, serve para justificar que o poder público está tentando com suas políticas eficientes. Pelo menos no que se refere: tornar artistas em mercadorias e o público em consumidor de um direito negado.
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