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Dia 27 de março: Dia internacional do teatro e em Contagem comemoramos o abandono dos teatros fechados

Em terra, enterra, enterra
sem terra, sem terra, sem terra
Em terra, enterra, enterra
Sem teto, sem teto, sem teto
Em terra, enterra, enterra
sem terra, sem terra, sem terra
Em terra, enterra enterra
Otelo, Otelo Otelo
Em terra de teatro fechado
a ignorância nos fez desabrigados

Toda vez que se inaugura um palco os deuses do teatro ficam contentes e festejam! Não porque ganharam um novo templo, são deuses humildes, não querem ser adorados nem gostam... Mas porque sabem que assim os homens ao redor serão mais felizes. Terão ali a oportunidade rara de assistir à própria grandeza, de ver espelhada ali a sua própria magnitude. Ali serão vividas grandes amizades e amores. Ali todos trabalharão juntos, criando acontecimentos que jamais ocorreriam sem o palco. O palco sabe que não é apenas tábuas no chão, que é um gerador de significados. Ali é o lugar onde a imaginação ficará livre, sendo a imaginação o único campo onde um homem é realmente livre. Ali serão discutidos os problemas da comunidade, porque o palco sempre foi a melhor tribuna. Ali homens diante de homens falarão de sua alma, discutirão e compartilharão alegrias e tristezas como se fossem um só. Trabalharão alegremente por um mundo melhor, mais solidário. Inaugurar um teatro é criar uma ilha de liberdade, de lucidez, de solidariedade. Nada une mais as pessoas do que o teatro. Não é apenas um local de diversão, é isso também, mas principalmente é um lugar de reflexão, de descoberta, da revolução e do encontro com o outro.
Você sabia que hoje 27 de março, é dia Internacional do Teatro? Qual o panorama deste setor cultural em nossa cidade, Contagem?

Basicamente, a nossa realidade não é de comemoração como em todo Brasil também não deve ser. As políticas públicas atuais jogam o artista cada vez mais para o mercado e não avançam na compreensão da cultura como direito. Ou seja, o acesso que deveria ser garantido como direito, ainda é mediado pela lógica do consumo. Vai ao teatro ou a qualquer atividade cultural, quem pode pagar. Quem pode pagar o ingresso ou "produto cultural", a passagem dos ônibus e lanche, porque os teatros estão nas regiões centrais,  ou noutras cidades como é o caso de Contagem onde todos os teatros estão fechados. Sim, fechados, não temos teatros em Contagem, a terceira economia do estado e a segunda maior cidade não tem teatro.  Vez ou outra a Casa Azul (Centro Cultural), recebe um besteirol preconceituoso, mas este local não passa de um auditório, onde se improvisa um teatro sem estrutura e sem respeito com a cidade. O local pode ser um ótimo teatro, porque dinheiro há, falta vergonha na cara do poder público para isso.

O fundo de cultura (edital de distribuição de apoio financeiro público para os artistas) é o maior retrato do descaso com as políticas públicas. São pequenos valores que não garantem nem manutenção, nem  estrutura, nem circulação de qualquer obra de arte na cidade. O interesse é ter vários projetos pequenos acontecendo em momentos pontuais dando enfoque a propaganda institucional da própria prefeitura, a ponto de no próprio edital ter indicativo de gastos com publicidade. Hoje o produtor obrigado a usar carro de som, fazer faixas, cartazes e panfletos e para cada valor do projeto o edital aponta a quantidade da publicidade também que chega a trinta por cento do valor, somando a contra partida que o artista deve dar. Para não dizer outra coisa, é bizarro!

Seguimos com o Cine Teatro Tonny Vieira, maior teatro público da cidade, fechado a cinco anos, com uma ação do Ministério Público que exige sua reforma e reabertura. Os centros culturais e espaços públicos nas regiões da periferia continuam fechados. As praças burocratizadas, sem ponto de luz e sem cuidado. Os grupos de teatro da cidade que resistem lutam de todas as formas, sem valorização sem respeito, sem fomento do poder público que deveria subsidiar o trabalho de quem faz o que ele deveria fazer: Garantir o acesso a obra de arte e a cultura para toda a população, não só com eventos mas também com formação. Mesmo que de forma limitada, devida à falta de políticas, os grupos continuam fazendo o que podem.
É triste escrever isso todo ano, é triste e desta vez gritado, rasgando o termo do que acontece, do que muita gente sabe, mas se cala pela histórica política do medo exercida na cidade. Em Contagem prevalece a lógica do favoritismo político, onde quem ocupa os cargos são os indicados políticos que se coligaram ou do próprio partido do prefeito o PC do B. O PT e todos os partidos que passaram pela prefeitura, como PSDB também, faziam o mesmo e agora o PC do B aprofundou na lógica do aparelhamento, da falta de concursos e da falta de investimentos em detrimentos dos gastos com os favores políticos. Só na Fundação de Cultura são mais de quarenta cargos! Não por acaso, neste momento todos estes partidos estão juntos entrando para o governo e querendo uma boquinha.

A Câmara Municipal dos Vereadores que deveria fiscalizar e legislar para pressionar o executivo a avançar nas políticas públicas, parece uma confraria, ou melhor, um balcão de negócios entre os partidos. Praticamente todos os vereadores possuem uma ONG, ou estão vinculados a alguma. É por aí a porta de entrada dos benefícios pela omissão, dos benefícios pelo silêncio da omissão, por aprovarem todos os projetos enviados pela prefeitura. É tanto projeto enviado pela prefeitura que parece que o prefeito legisla e não entendeu sua função. Não, seria inocência pensar isso. Ele entende, e o que faz é aparelhar inclusive a Câmara com o dinheiro público, através de cargos, secretárias e repasse por meio de convênios com ONG's. Mas isso é tudo coisa da minha cabeça, se fosse verdade o o Ministério Público investigaria.

Comentários

  1. já frequentei muito.é uma pena estar abandonado

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    1. Vergonhoso, e não são só teatros fechados, são escolas, hospitais e muitos outros espaços da cidade.

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