A HISTÓRIA DO TEATRO QUE NÃO ABRIU

Jessé Duarte

Agradeço a Marcelo Dias Costa, que deu titulo a este experimento textual.

Essa é uma reflexão escrita em forma de texto teatral. Um ensaio dramatúrgico de estrutura experimental, livremente inspirado na realidade cultural do Brasil e principalmente de Contagem (MG). Realidade que se configura como um problema social grave. 

Neste dia 27 de março comemoramos o Dia Mundial do Teatro, e mais uma vez, teatros e espaços culturais estão fechados, abandonados. Não é difícil ver por ai, o patrimônio público transformando-se em centros culturais de empresas ou até mesmo em igrejas. Este texto tenta refletir essa realidade de forma contraditória e pode ser utilizado como norteador para criação de cenas, onde pode ser incluindo o ponto de vista dos artistas envolvidos. Serve também como uma forma diferente de leitura de uma realidade que vem sendo justificada com abstrações e fragmentos de discursos mercadológicos para não se dizer o obvio: O estado não vê a cultura como um direito, mas sim, como uma mercadoria, um objeto de consumo e por isso não a trata como um serviço social básico para a população. Caso ao contrário, esse texto pode não servir pra nada mesmo, sobre o risco de mesmo assim, continuar refletindo a realidade atual.

INICIO: ANTES DA PEÇA COMEÇAR

Antes da peça começar, três sinais preparam o espirito do público.

Primeiro Sinal: Infiltrações nas paredes

Segundo Sinal: Infiltrações no teto e nas paredes.

Terceiro Sinal Infiltrações por todas as partes. 

Começa a história...

PRÓLOGO

- Um dia, o teatro não abriu.

- E o pipoqueiro?

- Faliu 

1° ATO: HOJE TEM ESPETÁCULO?

Cena 1 

- Teatro fechado para reformas.

Cena 2 

- Confie nas reformas!

Cena 3 

- A reforma vira promessa de campanhas eleitorais.

Cena 4 

- Novo prefeito empossado

Cena 5 

- Dois anos depois, o teatro continua fechado.

2 ° ATO: OS ARTISTAS SE REVOLTAM

Cena 1 

- Marcam uma manifestação em frente ao teatro.

DISTANCIAMENTO ÉPICO: 

- Em politica eu não me meto.

- Não é politica. É teatro.

Cena 2 

- Fazem uma manifestação performática e diferente.

Cena 3 

- É teatro, politica e causa estranhamento.

3° ATO: OS GESTORES, A MANDO DO PREFEITO SENSIBILIZADO, TENTAM JUSTIFICAR E FAZER ALGO.

Cana 1 

- Dizem que já estavam se preparando para reabrir o teatro. Pedem paciência.

Cena 2 

- Nunca tem dinheiro publico para a cultura.

Cena 3 

- Parceria Publico Privada.

DISTANCIAMENTO ÉPICO: 

Reunião entre gestores, empresários e um pastor. 

Cena 4 

- O jornal local avalia positivamente a resposta da prefeitura.

Cena 5 

- O pipoqueiro lê o jornal e se anima com a possibilidade de voltar a vender pipocas. Investe todas as economias em 1 tonelada de milho.

Cena 6 

- Vai virar igreja? Ou centro cultural empresarial para lavar dinheiro através da isenção fiscal?

DISTANCIAMENTO ÉPICO: 

- Isenção Fiscal??? 

- É. tipo que o empresário investe uma grana pra reabrir o teatro público, recebe tudo em isenção de impostos e continua usando o espaço de graça, divulgando sua marca, escolhendo o que pode ou não ser apresentado.

Cena 7:

- E o pipoqueiro?

- O pipoqueiro recebe notificação de que será proibido vender pipocas na porta do novo estabelecimento empresarial, quando este ficar pronto. Os impostos para manter a sua licença e carrinho de pipocas aumentam. O milho de pipoca vence, ele passa a comer só pipoca, até explodir. 

Cena 8:

- E o teatro? 

- Teatro?

- É, o teatro?

- Que Teatro?