Organizar o Carnaval de Rua em Contagem (MG) tem sido uma verdadeira luta. Reflexo de como a cultura popular é tratada na cidade. Ao longo de anos, políticos, empresários e setores elitistas da sociedade sempre utilizaram da arte e as manifestações populares como uma forma a mais de propagar suas ideologias. Não é por acaso que ao chamar uma reunião para organizar um suposto resgate do Carnaval de Rua, a Fundação Cultural da Cidade apresenta e mantém um EVENTO que endossa a competição e coloca os blocos a serviço de um grande evento que passa a impressão de que algo esta sendo feito pela cultura popular. Na reunião, os gestores se comportam como gincaneiros. Gincanas, tradição essa, que ao contrario, é muito respeitada pelo poder público, talvez porque a eleição do prefeito atual tenha sido uma grande gincana - Quem conseguisse mais votos ganhava o premio: Um cargo, um gabinete, uma lei aprovada, um terreno cedido, um imposto esquecido. Uma zona neutra, para comercializar na periferia? Vai saber!
De evento em evento, de resgate em resgate, muitos compram uma luta de quem domina. Uma pequena classe que se vê no risco de perder o controle sobre as manifestações das ruas e criam estruturas institucionalizadas para controlar e resgatar sim, mas para si mesma. O resgate proposto para Prefeitura de Contagem para o Carnaval de Rua é real, se olhado pela ótica de quem está perdendo quando o povo se reine para criar um bloco com marchinhas criticas e estética inquietante.
Nos dias de hoje, onde existe um grande desrespeito com o povo, que se encontra carente de acesso à tudo - saúde, educação, moradia, cultura etc - organizar um bloco de carnaval assume um caráter de luta. Uma luta pelo direito de brincar, de cantar, de tomar para si o sentimento de estar fazendo algo, de estar criando e vivendo sua própria cultura. Os processos contrários a isso são antigos e podem ser entendido sobre a ótica da mercantilização cultural. Uma forma de matar esse sentimento popular é transformar tudo em mercadoria, estimular a competição, valorizar mais o evento do que o processo que está em curso.
Na nossa cidade crescemos educados para ser operários, trabalhar nas indústrias, dormir cedo, acordar cedo, trabalhar muito e quando conseguir um tempinho livre ir para BH atrás de alguma coisa para fazer. Aqui para se fazer festa popular ou de qualquer outra forma de expressão artista e cultural é preciso ter em mente que haverá uma luta a ser travada. A começar, com o próprio poder público que faz de tudo para negar a identidade cultural local e impor modelos mercantilizados. Existe sim uma identidade local que sofre com o apagamento e com isolamento garantido pela manutenção do descaso.
Não bastam editais e fundações se a arte local não for respeitada por si mesma, sem precisar de equiparar à modelos de eventos e de renomadas mercadorias culturais.
Junto ao Bloco Maria Baderna, Apoema Sarau Livre, Cia. Crônica de Teatro, F5 - Festival de Cultura Independente de Contagem e Fórum Popular de Cultura plataforma de tantos outros encontros e tantas outras manifestações, o que tenho aprendido é que nossa arte é a nossa luta, inclusive pelo direito à uma cidade que nos expulsa enquanto artistas e nos aceita enquanto consumidores ou para respirar a poluição das fabricas que sujam tudo.
De alguma nossas produções não são espelhos desta dura realidade, mas sim martelos para forja-la. Somos imigrantes onde nascemos, verdadeiros e resistentes nos mantendo vivos na cidade operaria. Mortificante cemitério de sonhos e da sensibilidade humana, de tempo de vidas perdidas nas fabricas.
De alguma nossas produções não são espelhos desta dura realidade, mas sim martelos para forja-la. Somos imigrantes onde nascemos, verdadeiros e resistentes nos mantendo vivos na cidade operaria. Mortificante cemitério de sonhos e da sensibilidade humana, de tempo de vidas perdidas nas fabricas.
Artistas de Contagem Existem e Resistem!
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Os ensaios para o Carnaval de Rua de Contagem continuam, vejam agenda de atividade do Bloco Maria Baderna CLIQUE AQUI
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